quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Feliz ano Velho - Marcelo Rubens Paiva

Eu já tinha visto esse livro na biblioteca da minha escola, mas na verdade, não senti nenhum interesse em lê-lo. Tudo mudou depois que peguei ele realmente nas mãos pela primeira vez, e então li a sinopse. Me pareceu aquela coisa de superação e blablablá, que me deixa entediada, mas na contracapa me dei uma esperança, vi a palavra 'Irônico' e como todo mundo sabe, se tem alguém que é chegado a uma boa irônia,esse alguém certamente sou eu! Então comecei a ler, e não parei até terminar. Sério, foi bem rápido, principalmente para um livro brasileiro. Certo, eu admito que sou meio preconceituosa em relação a isso, mas vamos concordar, difícilmente achamos uma leitura de qualidade quando se trata de nossos clássicos. Aff, realmente não sou chegada a esse tipo de coisa do sertão, povão, fome. Já basta a miséria que vejo na vida real, não preciso ainda ler. Mas voltando ao livro, é inacreditável, e se eu soubesse teria lido antes. É muito bom, uma leitura fácil e  instigante, e claro, irônica. Me pergunto como o autor, o Marcelo, consegue relatar detalhes da sua vida, que de certa forma são trágicas, com esse humor.
Puta que pariu: O homen foi a lua e ninguém descobriu a cura para uma lesão de medula.Ora bolas, vão todos tomar no cú. - pág. 180
Acho que eu, mesmo sendo muuito irônica não conseguiria, mas como ele próprio escreveu no seu livro, fazer o que? A não ser aceitar. E é isso que eu percebo, ele aceitou, seus limites e a verdade. A vida de muitas pessoas lá fora é assim, e acho que no momento que ele percebeu que não era o único no mundo isso realmente mudou a pessoa que ele é. 
 De que adianta a aternidade? Um orgasmo dura poucos segundos. A vida dura poucos segundos. A história se fará com ou sem sua presença. A morte é apenas um grande sonho sem o despertador para interromper.Não sentira dor, medo,solidão. Não sentirá nada, o que é ótimo. O sol continuará nascendo. A terra fertilizará com seu corpo. Suas fotos grafias amarelarão nos albúns de família. Um dia alguém perguntará:
- Quem é esse cara da fotografia?
- Ninguém que interesse. - pág.54
Me vi em momentos que eu queria - e torcia- muito para que ele se recuperasse e saisse por ai andando, mas isso não aconteceu. Como eu costumo dizer, somos seres humanoos imbecis abduzidos por finais felizes. Hoje eu sei, hoje eu sempre tento me lembrar que a vida de muitas pessoas não é assim, e tive um grande exemplo com esse livro. O meu, o seu final feliz pode existir, mas não é perfeito, afinal ninguém precisa de perfeição para ser feliz, esse é a verdade. De tudo, o que verdadeiramente fáscina é sua perpectiva sobre si próprio, em nenhum momento ele tenta dar uma de herói, e como ele próprio diz: Não sei como vou estar fisicamente,não sei como irei ganhar a vida e não estou a fim de passar nenhum lição. Não quero que as pessoas encarem como um rapaz que apesar de tudo transmite muita força. Não sou modelo pra nada. Aconteceu comigo. Injustamente, mas aconteceu. É foda, mas que jeito...



 Sinopse: Publicado originalmente em 1982, este livro é um relato do acidente que deixou Marcelo Ruben Paiva tetraplégico, poucos dias antes do Natal de 1979. Jovem paulista de classe média alta, vida boa, muitas namoradas, ele vê sua vida se transformar num pesadelo em questão de segundos. Durante um passeio com um grupo de amigos, Marcelo resolve dar um mergulho no lago. Meio metro de profundidade. Uma vértebra quebrada. O corpo não responde. Começa ali, naquele mergulho, a história de 'Feliz Ano Velho'. Apesar do tema trágico, 'Feliz Ano Velho' tem momentos de humor, ternura e erotismo. Marcelo se encarrega de colocar em palavras a relação de amor e respeito à mãe, o carinho das irmãs, a camaradagem e o encorajamento da turma, as festas e fantasias sexuais.

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