domingo, 15 de janeiro de 2012

Prólogo de City of Lost Souls

Simon se levantou e encarou entorpecido a porta da frente de sua casa.
Ele nunca conheceu outra casa. Foi este o lugar para onde seus pais o levaram quando ele nasceu. Ele cresceu entre as paredes da casa geminada no Brooklyn. Ele brincou na rua sob a sombra frondosa das árvores no verão, e fez trenós improvisados ??com tampas de lata de lixo no inverno. Nesta casa, toda a sua família sentou shivá depois que seu pai morreu. Aqui ele beijou Clary, pela primeira vez.
Ele nunca imaginou o dia em que a porta da casa estaria fechada para ele. A última vez que tinha visto sua mãe, ela o chamou de monstro e rezou para que ele fosse embora. Ele a fez esquecer que ele era um vampiro, usando glamour, mas ele não sabia quanto tempo duraria o glamour. Enquanto estava parado no ar frio de outono, olhando a sua frente, ele sabia que não tinha durado tempo suficiente.
A porta estava coberta de sinais – Estrelas de David salpicadas em tinta, a incisão no formato do símbolo de Chai, a vida. Tefilin enlaçavam a maçaneta da porta e o batente. Um Hamesh, a Mão de Deus, cobria o olho mágico.
Entorpecido, ele colocou a mão na mezuzá de metal afixada no lado direito da porta. Ele viu a fumaça subir de onde a sua mão tocara o objeto sagrado, mas ele nada sentiu. Nenhuma dor. Apenas um terrível e monótono vazio, elevando-se lentamente em uma raiva fria.
Ele chutou a parte inferior da porta e ouviu o eco pela casa. “Mamãe!” ele gritou. “Mãe, sou eu!”

Não houve resposta, apenas o som dos ferrolhos sendo acionados na porta. Sua audição sensibilizada reconhecera os passos de sua mãe, sua respiração, mas ela não disse nada. Ele podia sentir o cheiro acre de medo e pânico mesmo através da madeira. “Mamãe!” Sua voz falhou. “Mãe, isso é ridículo! Deixe-me entrar! Sou eu, Simon!”
A porta vibrou, como se a tivesse chutado. “Vá embora!” Sua voz era áspera, irreconhecível com terror. “Assassino!”
“Eu não mato pessoas.” Simon apoiou a cabeça contra a porta. Ele sabia que provavelmente poderia chutá-la abaixo, mas qual o propósito? “Eu disse a você. Eu bebo sangue animal.”
Ele a ouviu sussurrar, suavemente, várias palavras em hebraico. “Você matou meu filho”, disse ela. “Você o matou e colocou um monstro em seu lugar.”
“Eu sou seu filho…”
“Você usa o seu rosto e fala com sua voz, mas você não é ele! Você não é Simon!” Sua voz se elevou a quase um grito. “Afaste-se de minha casa antes de eu te matar, monstro!”
“Becky”, disse ele. Seu rosto estava molhado, ele colocou as mãos até tocá-lo, e elas saíram manchadas: Suas lágrimas eram sangrentas. “O que você disse à Becky?”
“Fique longe de sua irmã.” Simon ouviu um barulho de dentro da casa, como se algo tivesse sido derrubado.
“Mãe”, disse ele novamente, mas desta vez sua voz não se elevaria. Ela saiu como um sussurro rouco. Sua mão começou a latejar. “Eu preciso saber… Becky está aí? Mãe, abre a porta. Por favor…”
“Fique longe de Becky!” Ela estava se afastando da porta, ele podia ouvir. Depois, veio o guincho inconfundível da porta da cozinha se abrindo, o ranger do linóleo enquanto ela caminhava sobre ele. O som de uma gaveta sendo aberta. De repente, ele imaginou sua mãe agarrando uma das facas.
Antes que eu te mate, monstro.
O pensamento o deixou de pé atrás. Se ela o golpeasse, a marca ascenderia. Iria destruí-la, assim como tinha destruído Lilith.
Ele baixou a mão e recuou devagar, tropeçando nos degraus e pela calçada, encontrando-se contra o tronco de uma das grandes árvores que sombreavam o quarteirão. Ele permaneceu onde estava, olhando para a porta da frente de sua casa, marcada e desfigurada com os símbolos do ódio de sua mãe por ele.
Não, ele lembrou a si mesmo. Ela não o odiava. Ela pensou que ele estava morto. O que ela odiava era algo que não existia. Eu não sou o que ela diz que eu sou.
Ele não sabia quanto tempo teria permanecido ali, olhando, se seu telefone não tivesse começado a tocar, vibrando no bolso do casaco.
Alcançou-o reflexivamente, notando que o desenho da frente da mezuzá, intertravado por Estrelas de Davi, foi queimado na palma da sua mão. Ele trocou de mão e colocou o telefone no ouvido. “Alô?”

“Simon?” Era Clary. Ela parecia sem fôlego. “Onde você está?”
“Casa”, disse ele, e fez uma pausa. “A casa da minha mãe”, ele emendou. Sua voz soou irreal e distante em seus próprios ouvidos. “Por que você não volta para o Instituto? Estão todos bem?”
“É exatamente isso”, disse ela. “Logo depois que você saiu, Maryse desceu de volta do telhado, onde Jace deveria estar à espera. Não havia ninguém lá.”
Simon moveu-se. Sem mesmo se dar conta do que estava fazendo, como um boneco mecânico, ele começou a caminhar até a rua, em direção à estação de metrô. “O que quer dizer: não havia ninguém lá?”
“Jace tinha ido embora”, disse ela, e ele podia ouvir a tensão em sua voz. “E Sebastian também.”
Simon parou à sombra de uma árvore de galhos nus. “Mas ele estava morto. Ele está morto, Clary…”
“Então me diz você por que ele não está lá, porque ele não está”, ela disse, sua voz finalmente falhando. “Não há nada lá em cima, além de um monte de sangue e vidros quebrados. Ambos se foram, Simon. Jace se foi….”

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