domingo, 12 de fevereiro de 2012

4 º Cap. - Menos eles.

Aceitar é o verbo mais difícil de se entender. Aceitar os outros, aceitar as perdas, aceitar a mudança de planos, aceitar o contrário aos nossos pensamentos, aceitar a vida. Aceitar é também sinônimo de entender, de compreender, até de perdoar. Quando aceitamos o que precisa ser aceito é compreensão pura; temos que entender que naquele momento nossas idéias não são ideais, mas o grande consolo é que é somente naquele momento.
                                                           
                                             ***
 Ela não o viu pelo resto do expediente. Parecia que ele a estava evitando, e não poderia deixar de pensar que talvez tivesse exagerado um pouco, ou talvez muito. Não pensava que ele iria levar tão a sério, e mesmo não querendo perder sua amizade, precisava fazê-lo olhar a realidade. Ela sabia que era difícil, que doía. Mas na vida, era necessário.
Enfiava – literalmente - a cara nos papéis, quando uma batida na porta chamou sua atenção.
 
 
- Oi – ele disse.
- Oi - ela respondeu. Fingiu não dar a mínima, o que não passava de uma mentira.
- Então, você não vai mais falar comigo? – O seu jeito manhoso de falar a fez rir. Ela levantou os olhos para ele.
- Certo, estou falando com você agora. – E manteve seu olhar ostentado esperando o que ele tinha para lhe dizer, curiosa.
- Me desculpe por hoje cedo, eu sei que sou um imbecil na maioria das vezes, mas pensei que já tivesse se acostumado.
- A claro, claro. Ser amiga de idiotas é bem o meu forte. – quando percebeu como tinha soado grosseira, voltou atrás. – Me desculpe, eu também exagero às vezes, sei que não sou a pessoa mais sensível do mundo, mas é que me irrita ver você persistir no mesmo erro o tempo todo. Sei que é difícil, é diferente. Principalmente a relação com seu pai agora, mas isso não é um sinal pra você crescer? Acorde! No final a vida tem muito mais a lhe oferecer do que você imagina, e não vai descobrir se passar o tempo todo tentando fugir do que ela realmente é.
Silêncio. Nenhum se atrevia a falar mais nada. Para ela era algo normal, para ele o silêncio era ensurdecedor.
Ela voltou a olhar para os papeis que tanto tentava colocar em ordem.
E ele virou as costas.
- A propósito, meu nome é Anne porque minha mãe ama Shakespeare. – Ele sorriu, e saiu por aí. Sabia que ela era assim e a aceitava assim, com seu jeito durão de ser. Sabia que dela o único carinho que ganharia seria um puxão de orelha, e na verdade adorava aquilo. Até que ponto os seus defeitos poderiam ser a sua maior qualidade para alguém?
                                             
                                            ***
 - Não acredito que está dando em cima de mais uma garota. Pensei que estivesse saindo com aquela sua amiga, a loira. – Sim, a loira burra. Na verdade, dificilmente Henrique saía com alguém interessante, ou nunca. Era o tipo de menininha que ela mais odiava. Essas meninas que se fingem de burras porque é mais fácil. E era um ponto de ônibus, pelo amor de Deus, ele não podia dar um tempo?
- Ah, você sabe. Deus disse para amar o próximo e é isso mesmo que eu vou fazer. Porque a atual, tá muito difícil! – Ele falou, arrancando gargalhadas dela. – Você sabe, tem horas em um relacionamento que as coisas se tornam muito melosas. Esse é o sinal de que está na hora de dar no pé.
- Falou a voz da experiência, o professor de relacionamentos. Você nunca erra, né ? – Ela disse com seu tom irônico.
- Sim, eu nunca erro, meu bem, e você mais do que ninguém deveria saber disso. - Ela sorriu; as coisas nunca mudavam. E ela estava feliz com isso. Revirou os olhos, um de seus costumes atuais.  A verdade é que ele gosta dela. Ela gosta dele. Todo mundo sabe. Menos eles. Um garoto e uma garota podem ser amigos, mas quando chegar a um ponto, eles vão se apaixonar. É como todo mundo diz,talvez temporariamente, talvez por muito tempo, talvez tarde demais, ou talvez para sempre.


Betado por minha amiga - salvadora - Nathália Santos ! Thank you . 

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